Crítica Social em PISQUE DUAS VEZES, de ZOë KRAVITZ - por Márisson Fraga [ALERTA DE SPOILER]

Ontem, fui assistir ao filme PISQUE DUAS VEZES, à convite d'O Recife Assombrado (@orecifeassombrado), do Espaço Z (@espacozmkt) e Warner Bros. Pictures (@wbpictures_br). Percebi que, apesar de haverem muitas pessoas falando mal deste filme, é possível fazer algumas articulações e algumas críticas sociais a partir da perspectiva apresentada pela diretora Zoe Kravitz.
 

Portanto, aqui seguem algumas análise que vamos apresentar sobre o filme. É válido ressaltar que o que vai ser exposto aqui, não necessariamente está relacionado com a intenção dos roteiristas ou da diretora. É apenas uma percepção minha do filme PISQUE DUAS VEZES. 

EDIT: Ontem, tomei conhecimento sobre o caso P. Diddy e, imediatamente, consegui encontrar conexões entre o caso d'O Diabo de Hollywood e este filme PISQUE DUAS VEZES. A festa em Branco no início parece-me realmente uma alusão às White Parties de P. Diddy e o que ocorre na ilha parece-me realmente como uma alusão às Freak-Offs de Puffy Daddy. 

SINOPSE: 

A garçonete Frida conhece o bilionário Slater King e concorda em passar as férias em sua ilha particular. Mas o que parecia ser a viagem perfeita se torna uma experiência angustiante quando Jess, a melhor amiga de Frida, desaparece. A garçonete questiona a realidade após situações estranhas acontecerem e luta para descobrir a verdade.

ATENÇÃO! A PARTIR DE AGORA, NOSSA ANÁLISE CONTÉM SPOILERS!

MINHA ANÁLISE SOCIOPOLÍTICA DO FILME PISQUE DUAS VEZES:

"Pisque Duas Vezes" é um filme que, ao explorar elementos de suspense e terror psicológico, também oferece uma densa camada de comentários sociopolíticos. A análise desse filme pode focar em diversos aspectos, desde a representação das dinâmicas de poder até a crítica das estruturas sociais. Então, vamos a elas:

1. A Dinâmica de Poder e Controle

O filme apresenta personagens que, de diferentes formas, tentam exercer controle uns sobre os outros, seja através de manipulação psicológica, seja por meio de coerção direta. Essa dinâmica reflete as tensões presentes em sociedades contemporâneas, onde o poder muitas vezes se manifesta de maneira sutil e insidiosa. A luta pelo controle, que é central na narrativa, pode ser interpretada como uma metáfora das disputas de poder na vida real, envolvendo não apenas indivíduos, mas também instituições.

2. A Desconfiança nas Instituições

Quando o clima de abandono e desamparo se instala, principalmente, em Frida, por estar sozinha sem ter a quem recorrer para pedir ajudar, é possível entender que o filme também trata de uma crescente desconfiança da população (aqui, representados pelos personagens) em relação às instituições que deveriam protegê-los. Essa temática reflete um sentimento global de descrédito nas instituições políticas e sociais, onde o público questiona cada vez mais a legitimidade e a eficácia de governos, sistemas de justiça, e até mesmo da mídia. O filme, ao expor essa desconfiança, ecoa o ceticismo de muitas pessoas em relação àqueles que detêm o poder.

3. A Alienação e o Isolamento

"Pisque Duas Vezes" também lida com temas de alienação e isolamento, tanto físico quanto emocional. Em um contexto sociopolítico, isso pode ser visto como um reflexo da fragmentação social moderna, onde as pessoas, apesar de estarem conectadas digitalmente, muitas vezes se sentem mais isoladas do que nunca. A narrativa sugere que, em tempos de crise, esse isolamento pode ser tanto uma causa quanto uma consequência da deterioração das relações sociais.

4. Os Papéis de Gênero e a Violência

O filme também pode ser analisado através do prisma dos papéis de gênero e da violência. As relações entre os personagens frequentemente envolvem dinâmicas de gênero complexas, onde expectativas tradicionais são desafiadas ou subvertidas. Isso abre espaço para discussões sobre como as normas de gênero influenciam o comportamento e como a violência é frequentemente uma resposta à frustração e à impotência dentro dessas estruturas sociais.

5. A Dualidade da Realidade

O título "Pisque Duas Vezes" pode sugerir uma dualidade na percepção da realidade, que pode ser lida como uma crítica ao modo como as narrativas oficiais ou dominantes frequentemente obscurecem verdades inconvenientes. Essa ideia se conecta com questões sociopolíticas atuais, onde o controle da narrativa e a manipulação da percepção pública são temas de intenso debate.

6. Racismo Estrutural

É também possível considerar que, simbolicamente, o fato da atriz principal ser uma mulher negra de uma classe trabalhadora - digamos - marginalizada nos Estados Unidos e, sem perceber, se tornar subserviente em todos os aspectos às classes burguesas, nos leva a refletir sobre a ilusão que se produz quando "migalhas sócio-econômicas" são oferecidas causando silenciamento nos oprimidos, levando-os a fantasiar uma ideia de pseudo-soberania de classe.

Em resumo, "Pisque Duas Vezes" oferece um terreno fértil para discussões sobre poder, controle, desconfiança nas instituições, alienação social, violência, e a manipulação da realidade. Essas camadas adicionam profundidade à experiência cinematográfica, fazendo do filme não apenas um entretenimento, mas também um comentário relevante sobre as tensões sociopolíticas do mundo contemporâneo.